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Uso de Cloroquina em pacientes com COVID-19: o que foi comprovado até agora?

Até o momento não foi descrita nenhuma terapia efetiva para o tratamento da COVID-19 que tenha bases sólidas com resultados cientificamente comprovados, segundo a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI).

Muitas possibilidades de estratégias profiláticas e terapêuticas têm sido investigadas, incluindo a possibilidade de uso da cloroquina ou hidroxicloroquina.

Esses dois fármacos fazem parte de uma classe de medicamentos denominada aminoquinolinas e ambos têm descrição de efeitos adversos como retinopatias, hipoglicemia grave, prolongamento QT (que se relaciona com alteração da frequência cardíaca) e toxicidade cardíaca, sendo exigido contínuo monitoramento médico dos indivíduos em uso deles.

Quatro órgãos representativos de especialidades médicas publicaram no 18 de maio, manifestos contrários a utilização generalizada da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 antes da conclusão de estudos científicos complementares.

De acordo com o documento formulado pelas sociedades médicas, a cloroquina e a hidroxicloroquina (receitadas usualmente para malária) não devem ser utilizadas como tratamento de rotina contra o novo coronavírus.

O uso da cloroquina e da hidroxicloroquina só pode ser considerado, segundo o documento, para casos graves, de pessoas hospitalizadas, em “decisão compartilhada entre o médico e o paciente”.

Confira algumas das informações sobre os estudos realizados e suas conclusões disponíveis no parecer científico divulgado pela Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), no dia 18 de maio de 2020:

Estudo um: Diminuição de carga viral

Mostrou que a associação entre hidroxicloroquina e azitromicina levava a uma diminuição da carga viral em pacientes tratados com esses dois fármacos (Gautret et al., 2020).

Entretanto, esse estudo apresenta um grupo muito restrito de pacientes, com um total de 36 pacientes avaliados em 3 braços de tratamento, sendo uma amostragem pequena e sem grupo controle para comprovar qualquer resultado definitivo.

Estudo dois: Maior incidência de falência cardíaca e nenhuma melhora em relação a mortalidade.

Foram avaliados 1438 pacientes. Os que receberam hidroxicloroquina e azitromicina apresentaram uma maior incidência de falência cardíaca quando comparado com o grupo sem tratamento (Rosenberg et al., 2020).

Adicionalmente, esse estudo também mostrou que não houve nenhuma melhora significativa quanto à mortalidade.

Estudo 3: nenhuma associação com a diminuição ou aumento do risco de intubação ou óbito.

Nesse estudo foram avaliados 1376 pacientes quanto a necessidade de intubação orotraqueal e óbito em 2 braços, com ou sem tratamento com hidroxicloroquina.

Esse estudo mostrou que a introdução do tratamento com hidroxicloroquina não foi associada com a diminuição ou aumento do risco de intubação ou óbito quando comparado com os pacientes que não receberam esse fármaco (Geleris et al., 2020).

Estudo 4: não houve diferença quanto à evolução dos pacientes e sim vários efeitos adversos, incluindo prolongamento do intervalo QT.

Nesse estudo foram avaliados 150 pacientes com COVID-19 moderada em estudo multicêntrico controlado randomizado com ou sem tratamento com hidroxicloroquina (Tang et al., 2020).

Não houve diferença quanto à evolução dos pacientes que usaram ou não esse fármaco, mas vários efeitos adversos relacionados ao uso de hidroxicloroquina foram relatados nos pacientes em uso desse medicamento (Tang et al., 2020).

Corroborando esse estudo, Mercuro e cols. (2020) mostraram, em um estudo de coorte de 90 pacientes com COVID-19, que os indivíduos em uso da hidroxicloroquina tiveram um risco aumentado de apresentar um prolongamento do intervalo QT.

Além disso, em estudo randomizado com pacientes graves com COVID-19, a utilização de alta dose de cloroquina como tratamento único ou em associação com azitromicina ou oseltamivir, não foi recomendado devido a segurança farmacológica relacionada com o prolongamento do intervalo QT e letalidade (Borba et al., 2020).

Além do parecer científico divulgado pela Sociedade Brasileira de Imunologia, também foram divulgadas as diretrizes para o Tratamento Farmacológico da COVID-19 em um consenso da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia

Clique aqui para ver o documento completo.

Conclusões:

“Baseados nas evidências atuais que avaliaram a utilização da hidroxicloroquina para a terapêutica da COVID-19, é possível concluir que ainda é precoce a recomendação de uso deste medicamento na COVID-19, visto que diferentes estudos mostram não haver benefícios para os pacientes que utilizaram hidroxicloroquina. Além disto, trata-se de um medicamento com efeitos adversos graves que devem ser levados em consideração”, afirmou a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI).

Desta forma, a SBI recomenda que sejam aguardados os resultados dos estudos randomizados multicêntricos em andamento, incluindo o estudo coordenado pela OMS, para obter uma melhor conclusão quanto à real eficácia da hidroxicloroquina e suas associações para o tratamento da COVID-19.

Além disso, as diretrizes para o Tratamento Farmacológico da COVID-19 divulgadas pela Sociedade Brasileira de Infectologia sugerem: não utilizar hidroxicloroquina ou cloroquina (ou a combinação de ambas) de rotina no tratamento da COVID-19 (recomendação fraca, nível de evidência baixo).

Não utilize nenhum medicamento que não seja indicado pelo seu médico e siga sempre as recomendações dos órgãos de saúde.

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Fontes e referências:

Parecer Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia sobre a utilização da Cloroquina/Hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19

Recomendação da SBI sobre tratamento farmacológico da COVID-19

Associações médicas se manifestam contra o uso da hidroxicloroquina na Covid-19

Diretrizes para o Tratamento Farmacológico da COVID-19.